domingo, 13 de março de 2016

Passados Presentes

Lembro com perfeição e detalhes, o dia em que fui até o consultório médico apresentar um exame de sangue, o qual após lido constatou que posso ter dificuldades para engravidar. Como foi difícil receber e processar esta informação... Mas o tempo passou e eu entendi que possibilidades de ser mãe com filhos gerados da minha barriga existem – por menores que sejam, além de existirem outras formas de me tornar mãe, uma vez que muitas crianças nascem de outra barriga para serem amadas e geradas nos corações de outras pessoas.
Uma coisa que marcou muito este contexto, foi que meu exame apontou que tenho FAN Positivo - que é um grupo de auto-anticorpos em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Todas as pessoas que têm Lúpus - doença autoimune que pode afetar principalmente pele, articulações, rins, cérebro, e também todos os demais órgãos, têm FAN Positivo. Mas uma minúscula parcela (tipo 1 em 1 milhão) das pessoas que tem FAN Positivo, não têm Lúpus. E foi bem isto que a reumatologista me explicou: nesta situação, eu sou 1 em 1 milhão!
Pois bem, por qual motivo estou contando esta história que nunca tornei pública?
Vamos lá: Há 17 anos tive um amor de adolescência que marcou muito. Namoramos. De um jeito bem inocente, namoramos. Por uma série de razões, nos distanciamos. Mesmo que o tempo tenha passado, sempre que nos víamos ficávamos incomodados. Inclusive, evitávamos nos encontrar. Ele sempre foi lembrado nas conversas que surgiam com amigos de infância em comum, bem como eu nas dele. E o tempo passou. Uma vez ou outra nos víamos de relance, talvez passando na rua. Nem sempre nos cumprimentávamos. Algo do passado incomodava. Pelo menos a mim. E a ele também.
O tempo passou. E passou. E passou mais. Muitas coisas aconteceram em minha vida e na dele também. Dentre estas coisas, tive alguns namorados e cheguei a casar. E ele também. Bem muito antes de mim ele se separou e eu tinha planos em meu casamento, dentre eles, ser mãe. E não fui. Por uma série de razões desgastantes, meu casamento acabou, e no início do segundo semestre do ano passado, resolvi não viver mais de aparências matrimoniais e dar o pontapé inicial para a separação. Separei-me. Ao saber da separação, o amor da adolescência se aproximou de mim de uma forma diferente: eu em uma cidade e ele em outra que fica há cerca 300 quilômetros de onde moro. Mesmo distante fisicamente ele se tornou uma pessoa muito próxima em um momento muito difícil pra mim.
Passou um tempo, nos encontramos pessoalmente pela primeira vez. A sensação de borboletas na barriga de quando éramos adolescentes foi a mesma naquele momento. Conversamos. Como no passado, até o primeiro beijo da segunda temporada foi desconsertado. E nos despedimos. O contato por celular e rede social passou a ser diário e frequente, e, desde então, sempre que podíamos nos víamos. Começamos a namorar. E, sempre que podemos nos encontramos pessoalmente.
Há poucos meses estamos namorando e, mesmo que tenhamos passado por diversas situações que inicialmente tinham a intenção de nos afastar e interromper nosso relacionamento, estamos muito felizes. Muito mesmo! Ao contrário das intenções maldosas, no uníamos mais. E permanecemos nos unindo mais.
E o que tem a ver esta história com a que iniciei este texto? Que pela segunda vez, fui 1 em 1 milhão! Quantas pessoas gostariam de poder reativar uma história do passado, pra saber o que resultaria no final, após adquirida uma maturidade? 
Olha, se este relacionamento é pra sempre, eu não sei. Até porque, o pra sempre eu já busquei e não foi. O que tenho certeza é que só saberei se posso gerar filhos ao conseguir engravidar. O que tenho para o momento é poder gerar, ao lado de uma pessoa que faz muito por mim e me faz muito bem - e vice-versa, são bons sentimentos que há muito tempo eu desconhecia! E ele também. 

♪ Beija eu,
Beija eu,
Beija eu, me beija.
Deixa
O que seja ser ♫
(Marisa Monte)