Ontem eu parei pra refletir
que preciso fazer uma limpa em meu guarda-roupas. Quando cheguei em São Mateus,
inicialmente com a proposta de permanecer por cerca de 3 meses, sobravam
espaços e cabides. Depois de algum tempo, com a estabilidade profissional, adquiri
uma cômoda. Tudo bem que eu poderia trocar meu jogo de quarto, porém, resolvi
mantê-lo com o fim de economizar tempo e dinheiro, e entender que naquele móvel
deve caber apenas o que realmente for de meu uso, uma vez que constantemente
renovo meu vestuário. Porém, de um tempo pra cá não tenho feito o desapego de
peças que possivelmente não mais usarei.
O desapego sempre estará
vinculado ao novo, e o novo assusta. O ser humano é tão materialista, que além
de ser tátil, muitas vezes não muda pelo simples fato de se encontrar numa zona
de conforto. O tempo passa, e ele é uma das coisas mais valiosas da vida.
Quando escrevo a palavra ‘muda’, me remete ao verbo e à falta de voz. Por muito
tempo estive muda e este tempo já passou. E quanto ao passado que pode até
servir de referência, sempre terá o seu lugar: onde ele está.
Detectei que preciso mudar
de casa, alçar novos voos, subir cada vez mais. Os ciclos se abrem e se fecham,
e eu já consegui provar pra mim mesma que o que preciso fazer é me impulsionar,
entender os sinais em respostas de preces, e seguir a favor do vento que sopra em minha direção, e não na
dos outros. Principalmente daqueles que querem abrir asas, mas busca impulso
pisando na cabeça de alguém. Não tenho do quê e nem posso reclamar da minha vida,
porém, permanecer estática numa situação não combina comigo porque eu sou puro
movimento.
Guardo malas em cima do meu
guarda roupas, e de um tempo pra cá, observei que quando preciso passar dias
fora de casa, coloco meus pertences sempre na menor. Isto significa que eu
aprendi a carregar o que é essencial com mais facilidade. Hoje a minha bagagem
principal consiste ao que é importante ter apego e às minhas vivências, e não
às roupas dobradas e penduradas.
Aceitar e entender as
mudanças demanda tempo, e nele vem a maturação... Seja ela com dias de chuva e
frio no verão, ou de calor intenso no inverno. A vida é feita de banhos de chuva
que lavam a alma quando, em dias de pandemia, não é aconselhável sair de casa
pra se tomar banho de mar.
É preciso nos reinventarmos
a todo instante de modo que isto aconteça com naturalidade, e sem forçação de
barra ou energia positiva gasta a troco de nada. Percebo que amadureci quando
no meu pacto de amor próprio venci traumas, e que as decepções fazem parte da vida
que deve seguir sempre adiante.
Hoje me encontro mais madura
ao selecionar pessoas para fazerem parte de mim, e entenderei que meu lugar é
onde exista reciprocidade. Sempre tive um bom coração, mas, fazia muito tempo
que eu não o sentia batê-lo com tanta leveza, tranquilidade e paz. Estou permissiva
à abertura de um ciclo em que as afinidades e construções participativas se
sobressaiam, e a distância seja apenas um detalhe essencial para uma
proximidade contínua em um futuro muito próximo.
Thaís Livramento
18 de maio de 2020