sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A dor do outro vem de dentro




A quarta-feira desta semana foi um dia muito difícil pra mim. Difícil não. Ruim. E que dia longo! Os movimentos de rotação e translação bugaram e pareciam mais que se envolveram em uma mixagem. Um dia daqueles em que o mal da gente são os outros. E que dor de cabeça insuportável é associada a um estômago pesado que não libera o vômito! E ter a certeza de que o dia teve alteração de humor e causou tudo isto justamente por ter afetado minha sensibilidade...

Sim, eu sinto as coisas com intensidade. E mais: se torna ainda mais profundo quando creio que alguém agirá como eu, e quando isto não acontece, por mais que eu tenha a convicção plena de que ninguém é igual a ninguém, a decepção aflora!

Mas nada como um dia após o outro, né? A sensação de deitar e antes de dormir conversar com Deus, me tranquiliza, fortalece minha fé, e me faz esperar pelas melhores compreensões e acontecimentos. Por mais que a princípio cause desconforto e faça sofrer.

Quarta-feira eu dormi rezando, conversando com Deus. Nem sei se deixei-O no vácuo, pois nem lembro ao certo em que parte estávamos quando embalei no sono. Mas uma das coisas que lembro, foi que pedi a Ele para me dar uma oportunidade de fazer um bem a alguém. Pois bem; deixe eu contar uma das coisas de meu dia ruim: quando o expediente estava terminando, um homem chegou em meu trabalho pedindo ajuda financeira para somar a uma quantia que tinha, com o objetivo comprar uma botija de gás, pois passava por dificuldades e além da esposa desempregada, tem um filho de 9 meses de vida em casa. E eu me senti mal, pois tinha o dinheiro, mas por ter habituado a usar cartão nas compras do dia a dia, não o tinha em espécie. E meu coração doeu porque eu me senti impotente. Minha botija de gás está cheia, mal cozinho em casa e neste mesmo dia 03, ela completou 1 ano e permanece cheia.

Como as coisas são desiguais... E antes de dormir, eu pedi a Deus para tirar as sensações ruins que eu sentia e me dar uma oportunidade de suprir este lance da botija.

O dia amanheceu e minha quinta-feira começou abençoada! Com os olhos ainda inchados, ao acordar me olhei no espelho, sorri e disse: hoje será diferente! Me arrumei ao som das músicas do padre Fábio de Melo, e tudo o que eu fazia, conversava com Deus.

Segui para o trabalho e a manhã foi mega rentável! No horário de almoço segui para o restaurante de costume, só não contava que seria abordada por uma mãe acompanhada de sua filha: “Moça, você pode pagar um prato de comida pra ela?”. Voltei e perguntei se ela queria um  marmitex. E ela perguntou se o preço do marmitex era o mesmo, que preferia comer no restaurante. Aquela mulher que já havia me informado que tinha saído do hospital que acompanhava a filha internada por bronquite, queria sentar e comer ‘diferente’. Ao chegar no espaço, ouvi ela dizer à criança que serviria o prato e que comeria junto. Me virei a ela e pedi para que servisse duas refeições, uma para cada. Já fiquei feliz por ter sido retribuída com um sorriso leve e tímido que tentava disfarçar as imperfeições dentárias.

A menina parecia deslumbrada por estar em um ambiente diferente dos que está acostumada frequentar. E eu mal me concentrei no que comia por ter um turbilhão de pensamentos perante a situação e cenas que assistia.

Quando terminei de almoçar, fui até elas para perguntar onde moravam, e mulher, que me informou seu nome e eu esqueci, me disse que é em um bairro bem precário de São Mateus, que em casa não tinha nada para comer e morava também com mais duas filhas. Disse também que se sentia culpada por estar comendo e as outras meninas não. A criança me olhava com olhos brilhantes, e sorrindo olhei pra ela e perguntei seu nome. “Luiza com Z!”. Sorri e recebi de coração aberto o ‘Deus te ajude’ da mãe, e disfarçadamente pedi à garçonete para preparar marmitex para que ela levasse para às outras filhas. Me despedi e voltei ao trabalho.

Ontem eu ganhei meu dia e ainda estou radiante. Não quero aqui pagar de hipócrita por ter realizado uma boa ação e tornar público. Não é isto. Até porque, praticar boas ações e não divulgá-las, está incluído ao excelente pacote de educação que meus pais ofertaram a mim e aos meus irmãos.

Resolvi compartilhar tal acontecimento porque Deus, mais uma vez, respondeu a um pedido meu. Ele me mostrou que por mais que eu tenha problemas que me entristecem e me tiram do sério, a dor do outro vem de dentro e eu posso contribuir pra resolver problemas momentâneos que podem mudar a concepção de mundo de alguém por um instante. Ele me deu a oportunidade que pedi. Por Ele sou grata e em tudo dou graças!