sábado, 31 de março de 2012

Diferenças


Não é segredo pra ninguém, que amo cozinhar. Todo sábado tenho prazer em ir ao supermercado comprar produtos que planejo o almoço de domingo, já que no meio de semana não tenho tempo para tal atividade que me dá prazer.

Sempre costumo ir na parte da tarde, pertinho do comércio fechar, para evitar enfrentar filas compridas. Hoje foi diferente, fui antes do almoço. Enquanto estava na fila do açougue, observava o movimento das outras seções até uma mulher chegar e desviar toda minha atenção. Com jeito muito humilde, parou próxima a mim, não ocupou a fila e não parava de encarar os atendentes. O olhar dela transmitia pressa. E era de pressa. Antes de o açougueiro me atender, a mulher, que aparentemente tem uns 40 anos e demonstra ter mais, aproveitou a brecha de quando o açougueiro foi se dirigir a mim, e pediu que ele pegasse pelancas de carne pra ela. Como era minha vez, ele olhou pra mim e disse pra ela que não podia fazer aquilo naquele momento, já que estava atendendo e ainda não havia separado as pelancas, que era pra voltar no fim da tarde. A senhora insistiu dizendo que morava na roça e não podia perder o ônibus. O açougueiro olhou pra mim novamente, e discretamente balancei a cabeça autorizando que a atendesse antes de mim.

Enquanto o açougueiro enchia uma sacola com pelancas, eu perguntei pra mulher o que ela faria com aquilo. Ela me disse que cozinharia no feijão pra alimentar quatro pessoas: ela, seu esposo, sua filha e seu netinho. Naquele momento me senti tão mal... Enquanto uma pessoa pedia pelancas de carne, eu memorizava comprar picanha, alcatra e filé.

O açougueiro entregou a sacola para a mulher. Quando me dirigi ao açougueiro para pedir que pesasse ao menos 1 quilo de carne para aquela mulher, ela já não estava mais por perto. Caminhei sentido à sessão mais próxima da saída do supermercado para ver se a encontrava, mas não tive sucesso. Voltei ao açougue e fiz meus pedidos. Esta situação não sai da minha cabeça. Hoje não consegui almoçar, e pelo que me conheço, não conseguirei comer algo tão cedo...

13 comentários:

  1. sabe que vc é como eu ! até no blog mesmo gosto de postar moda e coisas bonitas,e toda vez que posto fico pensando que ta vendo e não pode ter ,fica só olhando o que compramos aonde vamos e não podem fazer o mesmo digo isto porque ja passei por isto e não me esqueço como era não ter nada !é miga mas fazer o que ela tem pelanca ,vc filé e lá na Etiópia, nem um pão duro eles tem . é triste obrigada pelo post beijinhos keila .

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  2. Muito complicado né thaís, nós reclamamos de tudo, e temos tanto. E têm pessoas que estão em uma situação muito inferior que a nossa e às vezes é até mais feliz que a gente.
    Mas vem a pergunta, o que podemos fazer para mudar essa situação? Quem teria como fazer algo não o faz. Mas meu coração dói quando me deparo com uma situação dessa também.

    Beijos

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  3. Vivemos em mundos abissalmente diferentes e pouco nos apercebemos disso. Separados como por paredes de vidro, vemos o outro lado, mas dependendo da incidência da luz. Dias sim, dias não, esse outro mundo se intromete em nossa vida: o lado da falta, do mais básico - comida, saúde, dignidade -, enquanto marchamos em nossa parada pessoal, não sem nossos atropelos (tão outros). Seu texto me relembrou isso, que é preciso desacelerar, ver com compaixão quem também caminha, mas com outras prioridades, já em nós satisfeitas.

    Abraços sagitarianos...

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  4. Olá retribuindo a visitaa !!obrigada por me seguir já estou seguindo devolta .
    parabéns pelo blog !! bjus

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  5. Não imaginamos as dificuldades dos outros até sermos confrontados com a sua realidade!!

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  6. Saudações Thais! Sabe... não se martirize, você já fez muito á ela cedendo teu lugar na fila. Pode não parecer, mas esse ato já foi perfeito! Boas atitudes não tem preço... ela não perdeu o ônibus e voltou para casa para fazer a comida para a família! Pense na sequência de fatos que poderia ocorrer se ela perdesse o ônibus.... Beijos e abraços!

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  7. passando pra dixar um oi
    e dizer que....
    adoro visitar seu cantinho]
    xauzinho e uma otima semaninha bjss

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  8. Foi mesmo uma situação constrangedora. Infelizmente, não podemos "consertar" o mundo e temos que ter "serenidade para aceitar aquilo que não podemos mudar".
    Não fique deprimida com isso; mesmo que vc tivesse oferecido a ela l quilo de carne de primeira, em pouco tempo a situação dela voltaria a ser a mesma, Um dia só não resolveria, né? Vida que segue...

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  9. Oi, adorei seu blog, sou nova aqui, ja estou te seguindo.
    Adorei seu post, me faz muito bem ver essas coisas, pois muitas vezes reclamo de problemas, e quando vejo isso, penso o quanto eu deveria agradecer (e olha que eu agradeço todos os dias nas minhas oraçoes).

    beijokas :)

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  10. Fazer o quê, guria? C'est la vie, dizem uns, coisas do mundo capitalista, dizem outros. Mas não se remoa com isso. Fez o que podia no momento. Quem sabe a filha ou o neto daquela senhora terão sorte melhor. Aos poucos a vida vai melhorando, nesse país. Quem hoje come pelanca amanhã, sem pressa alguma pedirá costela gorda para fazer churrasco para o dia das mães. Coisas da vida.
    (Sou novato aqui, adorei teu blog. Voltarei. À la prochaine!)

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  11. Caceta, Tha! Também perdi a fome, só de ler. Triste é que, quando a gente alcança alguém assim na saída do mercado, só consegue ajudar com um 1kg de carne que dura algumas refeições. Bom mesmo seria poder fazer algo permanente por essas pessoas... :(
    bjos

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  12. Que triste :( DOeu meu coração.

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  13. Um dos nossos grandes problemas: Nos tornamos cegos com o dia a dia. Perdemos a capacidade de nos indignarmos, é tudo normal. O mendigo na rua é normal, a criança pedindo alimento é normal, a senhora do açougue é normal... Teu texto foi um empurrão que me fez acordar, me fez lembrar da importância da indignação.

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